sábado, 16 de abril de 2011

PAZ E GUERRA INTERIOR

É preocupante a onda de violência dos dias atuais, principalmente nos centros urbanos. Constata-se que há uma expectativa e uma cobrança por parte da população para que as autoridades providenciem soluções do tipo fast food, como se fossem super heróis dos desenhos animados, que num passe de mágica pudessem resolver os problemas e restabelecer, imediatamente, a ordem um tanto quanto ameaçada. Enquanto isso, bem poucos assumem a responsabilidade individual pela criação de uma sociedade mais saudável e pacífica.

A conclusão à que se chega, após uma análise do contexto atual, é de que a sociedade, de forma geral, está doente. A explosão já sem controle da violência, bem como a degradação do meio ambiente, revelam essa verdade incontestável por quem quer que seja. Criticamos os políticos pelo descompromisso com a questão social, ambiental, com a segurança, entre outras coisas, mas, por outro lado, eles são reflexos dessa nossa sociedade desestruturada e desamorosa, que tem tido um perfil muito mais de inimiga do que de amiga da vida.

Houve um grande avanço tecnológico no mundo contemporâneo, porém não foi seguido de uma elevação no nível de consciência da humanidade. A consciência ficou para trás. E os resultados estão aí: ódio entre as nações, intolerância religiosa, racismo, violência urbana e rural, degradação do meio ambiente, corrupção política. Exemplos não faltam...

A sociedade é composta por pessoas. O desequilíbrio que vemos fora é resultado do desequilíbrio interno dos seres humanos que a compõem. Tudo na vida é contagioso, a vibração de paz ou de desarmonia de uma única pessoa. Se queremos uma sociedade pacífica, um dos passos fundamentais tem que ser dado dentro de cada pessoa, na conquista da paz interior. Dessa forma, poderemos criar um ambiente que favoreça a expansão da paz ao invés da violência.

É muito simples e fácil ver a violência externa, apontar culpados lá fora e nos eximir de toda e qualquer responsabilidade nesse processo. A dificuldade maior é nos recolhermos e termos a disposição de ir para dentro de nós mesmos, olhar e investigar o caos interno. Infelizmente, quase ninguém tem interesse e coragem para olhar e assumir seus desequilíbrios, suas fraquezas e a violência, em maior ou menor grau, que carrega dentro de si, reprimida ou não. E, sem aceitar e assumir o nosso desequilíbrio, torna-se difícil um retorno ao estado de harmonia. Se eu me negar a olhar o meu descompasso, não será possível intervir naquilo que está fora do prumo. Isso tem que ser compreendido.

O combate e a prevenção com relação à violência terão que ter, obrigatoriamente, mão dupla, uma via externa e outra interna. Não basta só desarmar a população, por exemplo. Há que se procurar diminuir, também, o nível de agressividade dos indivíduos e desarmá-los internamente, caso contrário recolhem-se as armas hoje e as pessoas vão se armar amanhã, pois a causa do distúrbio (que é interna) não foi solucionada.

Para curar a sociedade, seria necessário tratar das pessoas em nível mental, investir maciçamente em saúde mental. Caso contrário, como controlar o desequilíbrio e a insanidade mental das pessoas, sendo que a nossa própria sociedade, do jeito que é, contribui para a formação desse quadro? Como e com quem fica essa parte, talvez a mais difícil de ser resolvida, do problema da violência?
 
A situação atual em relação à escalada da violência requer um olhar amplo e profundo em várias direções por parte das autoridades, dos vários segmentos da sociedade, e também de todos nós, cidadãos comuns, começando por compreender e tratar a agressividade e a insanidade presentes dentro de cada um. Essa valiosa contribuição todo indivíduo pode e deveria se dar, e também à família, à sociedade e à vida. Essa iniciativa em direção à paz está ao alcance de todos.


BENEDITA ENILDES DE CAMPOS CORRÊA. Autora de Vida em Palavras – coletânea de crônicas.

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